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Capital vive repercussões do G20 e do atentado da semana passada à sede dos Três Poderes
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Publicado em 18/11/2024

O maior legado que o Brasil quer colocar na cúpula é uma aliança global contra a fome, com uma maior ajuda de países ricos.

 

Começou por volta das 11h a cúpula de líderes do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, no Rio de Janeiro. O evento começou com um discurso do presidente Lula como presidente do bloco. Estão presentes os presidentes ou primeiros-ministros de todos os países, menos da Rússia, que está representada pelo ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov.  

Lula está centrado ao centro da mesa ao lado do primeiro-ministro da Índia, Bhārat kē Pradhānamantrī, que foi sede da última reunião do bloco; e do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que será sede da cúpula em 2025. 

 O maior legado que o Brasil quer colocar na cúpula é uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, com uma maior ajuda de países ricos. Ao todo, são 81 países signatários na aliança.

Leia o discurso de Lula completo:

"Caros Chefes de Estado e de Governo,

Dirigentes de Organizações Internacionais,

Demais Chefes de Delegação, minhas amigas e meus amigos,

Sejam bem-vindos ao G20.

Sejam bem-vindos ao Rio de Janeiro.

Esta cidade é a síntese dos contrastes que caracterizam o Brasil, a América Latina e o mundo.

De um lado, a beleza exuberante da natureza sob os braços abertos do Cristo Redentor.

Um povo diverso, vibrante, criativo e acolhedor.

De outro, injustiças sociais profundas.

O retrato vivo de desigualdades históricas persistentes.

Estive na primeira reunião de líderes do G20, convocada em Washington no contexto da crise financeira de 2008.

Dezesseis anos depois, constato com tristeza que o mundo está pior.

Temos o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial e a maior quantidade de deslocamentos forçados já registrada.

Os fenômenos climáticos extremos mostram seus efeitos devastadores em todos os cantos do planeta.

As desigualdades sociais, raciais e de gênero se aprofundam, na esteira de uma pandemia que ceifou mais de 15 milhões de vidas.

O símbolo máximo na nossa tragédia coletiva é a fome e a pobreza.

Segundo a FAO, em 2024, convivemos com um contingente de 733 milhões de pessoas ainda subnutridas.

É como se as populações do Brasil, México, Alemanha, Reino Unido, África do Sul e Canadá, somadas, estivessem passando fome.

São mulheres, homens e crianças, cujo direito à vida e à educação, ao desenvolvimento e à alimentação são diariamente violados.

Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível.

Em um mundo cujos gastos militares chegam a 2,4 trilhões de dólares, isso é inaceitável.

 

A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais.

A fome, como dizia o cientista e geógrafo brasileiro Josué de Castro, “a fome é a expressão biológica dos males sociais”.

É produto de decisões políticas, que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade.

O G20 representa 85% dos 110 trilhões de dólares do PIB mundial.

Também responde por 75% dos 32 trilhões de dólares do comércio de bens e serviços e dois terços dos 8 bilhões de habitantes do planeta.

Compete aos que estão aqui em volta desta mesa a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade.

Por isso, colocamos como objetivo central da presidência brasileira no G20 o lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

Este será o nosso maior legado.

Não se trata apenas de fazer justiça.

Essa é uma condição imprescindível para construir sociedades mais prósperas e um mundo de paz.

Não por acaso, esses são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1 e 2 da Agenda 2030.

Com a Aliança, vamos articular recomendações internacionais, políticas públicas eficazes e fontes de financiamento.

O Brasil sabe que é possível.

Com a participação ativa da sociedade civil, concebemos e implementamos programas de inclusão social, de fomento da agricultura familiar e da segurança alimentar e nutricional, como o nosso Bolsa Família e o Programa Nacional de Alimentação Escolar.

Conseguimos sair do Mapa da Fome da FAO em 2014, para o qual voltamos em 2022, em um contexto de desarticulação do Estado de bem-estar social.

Foi com tristeza que, ao voltar ao governo, encontrei um país com 33 milhões de pessoas famintas.

Em um ano e onze meses, o retorno desses programas já retirou mais de 24, 5 milhões de pessoas da extrema pobreza.

 

Até 2026, novamente sairemos do Mapa da Fome.

 

E com a Aliança, faremos muito mais.

Aqueles que sempre foram invisíveis estarão ao centro da agenda internacional.

Já contamos com a adesão de 81 países, 26 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 fundações filantrópicas e organizações não-governamentais.

Meus agradecimentos a todos os envolvidos na concepção e no funcionamento desta iniciativa, que já anunciaram contribuições financeiras.

Foi um ano de trabalho intenso, mas este é apenas o começo.

A Aliança nasce no G20, mas seu destino é global.

Que esta cúpula seja marcada pela coragem de agir.

 

Por isso quero declarar oficialmente lançada a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza."

 

Polêmicas do G20

 

A cúpula do G20 no Rio pode ter alguns entraves em temas mais polêmicos e que ainda não são consenso. O texto final com o que ficou definido sairá nesta terça-feira (19) após o fim da cúpula.

Os temas mais sensíveis são os conflitos armados, como a guerra na Ucrânia e em Israel, a taxação de bilionários, clima e até igualdade de gênero. O ataque russo à Ucrânia às vésperas da cúpula também apertou as discussões sobre esse tema. O assunto pode causar confronto diretamente com uma das pautas prioritárias da presidência brasileira, a reforma da governança global.

A Argentina também pode ser uma pedra no sapato para as discussões. Até mesmo temas menos polêmicos, como clima e igualdade de gênero.

 

Na última hora, os argentinos mudaram de posição e passaram a rechaçar a tributação de grandes fortunas, uma das prioridades da presidência brasileira no G20. O presidente argentino Javier Milei deu a nova instrução aos diplomatas depois de se encontrar com o presidente eleito americano, Donald Trump.

 

 

 

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