São histórias de pessoas que já enfrentam o câncer há anos e passaram por procedimentos mais tradicionais, como quimioterapia, radioterapia e até mesmo transplante de medula.
Essa terapia nova é rápida, dura cerca de 30 minutos e promete eliminar a doença com o uso de células de defesa do próprio paciente, modificadas geneticamente.
A empresária Marico Utiyama Egashira descobriu a leucemia em 2020, passou por quimioterapia e transplante de medula, mas a doença ressurgiu. Segundo os médicos, ela continuaria fazendo tratamentos apenas para controlar a doença.
"Eu ficava pensando, será que aqui é o meu limite", desabafa Marico.
A aposentada Vânia Lucia Alves Teixeira, de João Pessoa, passava por uma situação semelhante, no Hospital A.C.Camargo, em São Paulo. Ela enfrentou um linfoma que retornou mesmo após quimioterapia e radioterapia.
"A gente percebeu que ela não respondia mais aos tratamentos convencionais, principalmente à base de quimioterapia, que é o que costuma tratar a doença dela", diz Jair Schmidt Filho, médico do Centro de Referência em Neoplastias Hematológicas do A.C. Camargo.
Tanto a Vânia quanto a Marico, foram orientadas por seus médicos a tentar uma última opção, a terapia genética CAR-T. O tratamento funciona assim:
- Começa com a coleta de sangue do paciente para obter as células de defesa - os linfócitos T, ou células T;
- Elas são enviadas a um laboratório e passam por uma modificação genética para poder identificar as células cancerígenas;
- Chamadas agora de células CAR-T, elas são devolvidas para o paciente por uma infusão;
- No corpo do paciente, as novas células se multiplicam e começam a eliminar o câncer.
A tecnologia foi criada nos Estados Unidos. Em 2017 a terapia foi aprovada pela agência reguladora de saúde americana.
Até o momento, o tratamento com as células CAR-T só pode ser feito em pacientes com 3 tipos de câncer: leucemia linfóide aguda, a da Marico, linfoma não Hodgkin, como o da Vânia e mieloma.
No Brasil, existem 2 maneiras de se fazer esse tratamento: enviando as células para laboratórios, nos Estados Unidos e na Europa, que custa, pelo menos, R$ 2 milhões ou participando dos estudos clínicos, como do Hospital Albert Einstein ou do Hemocentro de Ribeirão Pret.
Marico é a paciente número 17 a receber o tratamento aqui. Mas a expectativa é aumentar esse número.
"A gente pretende, num estudo clínico, fazer para 81 pessoas com linfoma ou leucemia. Hoje a gente tem uma unidade fabril aqui, uma fábrica desenvolvida e construída aqui no hemocentro que tem capacidade de produzir até 300 casos por ano com esse produto. Então a gente espera escalar isso aqui para muito mais pessoas. Tudo pelo SUS, sem custos", explica Diego Villa Clé, coordenador médico do Hemocentro de Ribeirão Preto .